quinta-feira, 28 de abril de 2011

Lucas e Laura


Madrid, 16 de dezembro de 2010.

Querido Lucas,

 Daria tudo pra ver seu rosto de surpresa nesse momento... mas mais que o rosto daria tudo pra sentir a sensação que você está sentindo agora com minha carta em mãos. Quanto tempo se passou, neste reveillon completará 3 anos de distanciamento, um distanciamento inevitavelmente necessário e que hoje talvez com minha mente mais amadurecida posso te explicar melhor os porquês e as interrogações que porventura deixei em ti desde minha partida.
 Ontem viajei para o distrito de Arganzuela e ao entrar na estação lembrei-me de ti, foi lá que nos conhecemos você fazendo curso de fotografia e eu visitando meus avós maternos, éramos tão livres... hoje me pergunto porque nos deixamos aprisionar tanto... Tenho tentado não mais me questionar sobre o que passou, éramos jovens e nos amávamos demais, hoje sei que amor demais também fere.
 Sei o quanto me procuraste, sei das inúmeras vezes que contataste meus avós aqui em Madrid, mas meu coração estava em pedaços e nesse tempo me dei ao luxo de pensar apenas em mim, deixei que o tempo se encarregasse de matar o pouco de mim em ti, querido se te ouvisse pelo menos uma vez não teria forças pra me curar de nós, ás vezes um ato de desistência é um ato de coragem, pode ser que não entendas mas fiz isso por te amar demais e por querer demais te ver feliz e há muito tempo nós já não nos fazíamos felizes.
 Durante os anos que vivemos juntos foi tudo tão intenso... hoje não sofro mais ao lembrar de ti, você me causa risos e ás vezes espanto, lembro-me de quando voltamos ao Brasil com a mala cheia de sonhos e nenhum dinheiro no bolso, foi sempre assim ‘você sonha nós realizamos!’ lembra?
 Pode ser que tudo que eu esteja te escrevendo já não faça diferença hoje, mas precisava fazer isso... precisava te dizer que sofri sem você, que você me levou partes que talvez nunca encontre novamente, que te amei da forma mais bonita e mais intensa que já amei alguém...



Da sua (espero um dia) amiga Laura


 A veces recuerdo tu cállido abrazo y la forma de desarmar a mí con una sonriza llena...


São Paulo, 03 de março de 2011.

Prezada Laura,

 Realmente muito me surpreendeu sua carta, já não pensava que um dia ouviria de você novamente e há muito tempo deixei de esperar alguma explicação, há muito tempo...  talvez se essa carta tivesse chegado a 2 anos atrás eu abriria um leque de todas as minhas dores pra você mas hoje isso me parece tão desnecessário, essas dores já não me são tão latentes, mas os questionamentos sobre sua partida sem explicação vez por outra me norteiam.
 Durante um ano te procurei incessantemente... tranquei a faculdade e já não trabalhava com o mesmo empenho, minha meta era encontrar você... escrevi todas as semanas e liguei todos os dias pra seus pais, amigos enfim pra qualquer pessoa que pudesse me dizer onde encontrar você, tudo em vão. A razão sabia que era o fim o coração não.
 Lutei contra todos e contra mim, porque embora sabendo o quanto éramos perigosos um para o outro sempre confiei no amor que sentíamos... embora nossas diferenças por vezes gritassem, sempre esquecia todas elas quando nos amávamos. E quando você foi embora percebi que toda essa certeza era unilateral... era uma guerra solitária, pois você já tinha abandonado o posto.
 Pode ficar tranqüila te amei tanto que nunca consegui sentir raiva ou ódio de você, apenas tristeza... tristeza pelos seus abraços que eu não teria mais, tristeza pela sua voz que eu não ouviria mais, tristeza por nós e por tudo que sonhávamos que não existia mais...
 Hoje só desejo que esteja bem... que seja feliz, não sei de você, como você disse que foi embora para se curar de nós eu demorei mas também me curei. Hoje só sinto saudade do que não fomos, dos tantos sonhos que não concretizamos não mais de você.



                                                                      De seu (por vontade própria) distante amigo, Lucas


Es una mentira te echo de menos todos los días, pero estamos demasiado lejos y la vida no nos quiere más.

Não aprendi a dizer adeus
Mas tenho que aceitar
Que amores vêm e vão
São aves de verão
Se tens que me deixar
Que seja então feliz
Não aprendi a dizer adeus
Mas deixo você ir
Sem lágrimas no olhar
Seu adeus me machuca
E o inverno vai passar
E apaga a cicatriz.
Não aprendi a dizer adeus(Leandro e Leonardo)

                                                          




quinta-feira, 21 de abril de 2011

Última Vez



Já havia acendido o terceiro cigarro quando desistiu não queria ficar com àquele cheiro impregnado quando ele chegasse, ele sabia bem que só fumava quando estava depressiva e com crises de solidão irremediáveis, ele sabia tão bem... Tentou colocar uma roupa mais frouxa não queria que ele percebesse que havia emagrecido tanto depois de sua partida, não queria que ele a visse infeliz, queria prová-lo a todo custo que sua falta não a afetou...no dia do encontro pintou e cortou o cabelo como há meses não fazia, desenterrou todas as maquiagens do fundo da gaveta e saiu pra comprar roupas novas... Ainda não havia rasgado as cartas e a fotografia do primeiro encontro  ainda estava no porta retrato ao lado da cama, mas disso ele não precisava saber, aliás ele nunca iria saber...
Sentada à espera daquele encontro, o último como já haviam prometido, lembrou-se do início de tudo, de como leu sua história nos seus olhos na primeira vez que o viu, de como voltou para o hotel extasiada, a partir dali tudo foi de uma intensidade nunca antes desvendada, ela era inteira paixão... Aonde foi parar tudo àquilo? E toda aquela sensação de ter completado seu ciclo na terra por ter encontrado tudo que sempre sonhou? Olhava fixamente as pessoas que passavam e se via um pouco em cada uma delas: no casal de adolescentes discutindo que filme iam ver, no outro casal desfrutando o sonho da maternidade e por fim na senhora sozinha a sua frente com jóias desfocadas e envelhecidas, com um olhar de quem se perdeu e nunca mais se encontrou...
Não podia tirar do foco cada palavra que precisava dizer, iria dizer que estava bem que tudo não havia passado de fantasias e que hoje conseguia enxergar tudo melhor, não era pra ser e por isso teve que se render a ordem do destino, hoje ele tinha uma vida... hoje ele tinha construído pra si tudo que sua dor não a deixou construir, hoje ele já estava longe, longe demais pra se sonhar com ele outra vez...
Quando o viu ele estava diferente, seu olhar carregava um cansaço... um cansaço particular de quem sonhou demais, ainda estava bonito como da última vez mas seu sorriso não era o mesmo...talvez porque o sorriso de antes era o sorriso de uma esperança que já não o habitava. E quando se aproximou àquele olhar de antes veio com ele, o mesmo que sem precisar mover o lábio sorria, o mesmo que trazia uma paz tão esquecida... e todas as coisas a se dizer se foram...se foram pra um dia quem sabe voltarem em uma outra estação onde todos esses sonhos a acordem numa noite qualquer.

Não fala nada, deixa tudo assim por mim
Eu não me importo se nós não somos bem assim
É tudo real nas minhas mentiras,
E assim não faz mal
e assim não, me faz mal não
Só pro meu prazer (Leoni)