terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Sobriedade

 

 

E você começa a não se assustar com o silêncio, tudo fica mais claro, aquele desespero de não se ter mais companhias para as noites derramadas em remédios para dormir cede lugar a uma solidão clara e almejada. Ninguém sabe ao certo quando se começa a enxergar tudo de forma passageira mas a dor dá início a tudo, a dor alarga as fronteiras, as lágrimas limpam os olhos cansados e o sofrimento liberta. Talvez beber demais, fumar demais, fugir demais nortei as preliminares de uma decisão ainda por tomar, mas no decorrer tudo se mostra como bobagem, porque de alguma forma a sobriedade está na alma e a alma nunca dorme. Ainda está tudo por resolver mas não se quer voltar atrás, há coisas que se resolvem por si só e por elas nada podemos fazer, é o valor da espera, a confiança no tempo e em sua completa capacidade de apagar e reativar tudo ao seu modo, o que é pra ser será e o que deixou de ser foi uma fração de segundo de uma vida que ainda espera ser vivida. É um cuidado consciente com o sentido que damos a algo que tem prazo de validade, é discernir que há propósitos e planos que findam em sonhos irrealizáveis. Mas no fundo entre lamas e esterco agente se nega a crer que a vida é dor, a vida pode ser leve, diz nossa alma, para se ter paz antes precisa ter guerra, pra se ter amor antes precisa entrega, pra se ter sol antes precisa ter escuridão, e é nessa escuridão que temos a certeza que o sol um dia virá.

 

 

Os velhos olhos vermelhos voltaram
Dessa vez
Com o mundo nas costas
E a cidade nos pés
Pra que sofrer se nada é pra sempre?
Pra que correr, se nunca me vejo de frente?

Olhos Vermelhos (Capital Inicial)